Moeda Morabitino

 

Tendo sido sempre conhecida, quer em espécie quer pelas referências nos inúmeros documentos da época, a primeira moeda de ouro portuguesa - que, até agora, não oferece dúvidas - é o morabitino de D. Sancho I. O nome Morabitino é o mesmo pelo qual os cristãos distinguiam o dinar emitido pelos Almorávidas, a seita berbere “murabit” que, entre os anos 1056 e 1147 C, governou a região atlântica norte-africana, desde o sul do Saara até à entrada do Mediterrâneo, estendendo-se ao Ândalus pouco tempo após a vitória em Zalaca contra o rei Afonso VI de Leão e Castela.

 O ouro destas emissões almorávidas era obtido em grandes quantidades, quase puro (90 a 95% de fino), tanto da região do Ghana como do sul do Sudão, cujas rotas aqueles berberes controlavam, sendo depois cunhado num estilo novo e espalhado por uma Europa e Próximo Oriente ávidos de metais preciosos, quase desaparecidos desde os finais do domínio romano. Quando Sancho I de Portugal resolveu também bater moeda de ouro, a dinastia Almorávida tinha passado à História havia já uns 40 anos, substituída pela dos almóadas, mas a fama do seu característico dinar, de peso entre as 4,15 e 4,20 gramas, continuava sob os nomes de “morabitino maior” (codicilo de 1179 ao testamento de D. Afonso Henriques) e depois “morabitino velho” (1253, Lei de Almotaçaria). Os reis das Taifas Almorávidas tinham-no imitado largamente, pelo menos até 1171 C diminuído no peso. Foi adotado a seguir pelos de Castela e Leão, num tipo cristão, com as características adequadas a cada Estado. Afonso VIII de Castela também bateu, a partir de 1174, com a própria escrita árabe, todavia de teor cristão, onde sobressaía uma cruz e a sigla ALF, e um peso de cerca de 3,85g. Ficou conhecido por “morabitino alfonsí” (Lei de Almotaçaria): semelhante a este na métrica e valor, mas visualmente adaptado à imagem representativa do novo Estado português, aparece depois o morabitino de D. Sancho I. O seu belo estilo, próprio da época, lembra-nos algumas representações na pedra das catedrais medievais, com rei a cavalo e a espada ao alto, na defesa da sua fé.

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Há uns setenta anos o preço normal de um morabitino (que só muito raramente aparecia na província, de algum achado) era de 3.000$00. Os leilões da Casa Molder começaram em janeiro de 48. Só no quinto, em abril, apareceu um morabitino. Foi à praça pelo dobro do valor, pelo qual foi comprado, por alguém mais feliz. No oitavo leilão apareceu outro. Dos 6.500$00 sugeridos no catálogo, mas com licitação iniciada em metade, alcançou 4.350$00. Só no ano seguinte, 1949, pelo Natal, apareceu outro, avaliado em 7.500$00. Foi arrematado por 4.000$00. O Molder era assim.

Concordou, mais tarde, e escreveu, que os preços pedidos deveriam ser os reais. Durante o ano de 1950 apareceram em três leilões, vendidos entre 2.500$00 e 2,750$00. Nos quatro anos seguintes levou à praça um em cada ano, à volta do preço real de 3.000$00. Depois, só raramente aparecia algum, no Almeida Basto & Piombino ou no J. Burnay, de alguma coleção desfeita. Hoje, para moedas destas, muito difíceis de encontrar, de que não consta haver achados no terreno, representativas do nascimento do nosso País, de muito bom desenho e gravura medieval, equivalentes a uma joia antiga, de apreço, mas uma joia autêntica, e que só aparecem na rotação imprevisível das coleções que as detém (metade estão em museus), um preço muitas vezes superior ao de há mais de meio século para um exemplar do tipo normal, o mais comum, sem variantes que o individualizem, não é excessivo. Acresce que, moedas destas, são reconhecidas como valores de investimento a prazo.