Moeda Rara

Degolada

Revolução de setembro. Belenzada. Conjura das Marmotas. Revolta dos Marechais. Revolta do Arsenal. Maria da Fonte. Emboscada. A Patuleia. Regeneração. Todos estes nomes têm um ponto em comum: turbulência. “Traduzem-se” em revoltas, levantamentos, rebeliões e criação de movimentos políticos de curta duração. Todos ocorreram no reinado de D. Maria II (1829-1853), a primeira rainha constitucional, que só começou de facto a reinar a partir de setembro de 1834, após a morte do seu pai, D. Pedro IV. O seu reinado coincidiu com a chamada revolução liberal e entre 1834 e 1851 “houve pelo menos cinco golpes de Estado com sucesso e duas guerras civis (1837 e 1846-1847). As aflições financeiras também continuaram, à medida da contração do valor do comércio externo português”, refere a História de Portugal coordenada por Rui Ramos.
Mas a turbulência política e social vivida nos tempos de D. Maria II não a impediu de lançar algumas importantes reformas no país, desde a educação à economia. Ao nível da moeda adotou o sistema decimal, substituindo-se as Peças pelas Coroas. Nas moedas de ouro a que mais se destaca pela raridade é a Degolada, ainda uma Peça, cunhada em 1833 e que ficou para a história com este nome pois no anverso tem a cabeça da rainha sem busto. A rainha não terá gostado da moeda e mandou suspender a sua cunhagem, daí a sua raridade. D. Maria II mandou ainda cunhar, em ouro, a Coroa, Meia Coroa e Quinto de Coroa.
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Foi no seu reinado, em 1846, que se criou o Banco de Portugal. Resultou da fusão do Banco de Lisboa, um banco comercial e emissor, e da Companhia Confiança Nacional, uma sociedade de investimento especializada no financiamento da dívida pública. Apesar de ter enfrentado crises nas finanças públicas, conseguiu iniciar a grande reforma geral do ensino, criou os liceus, reorganizou as forças armadas, publicou uma nova lei eleitoral e dividiu o território nacional em 17 distritos e três ilhas adjacentes.
Nascida no Rio de Janeiro a 4 de abril de 1819, D. Maria II, que ficou conhecida para a história como A Educadora, chegou à Europa em julho de 1828 para fazer valer os seus direitos ao trono – em 1826 o pai abdicou da Coroa a seu favor e deveria casar-se com o seu tio, D. Miguel, que juraria a Carta Constitucional. O casamento não chegou a acontecer e D. Miguel acabaria por restaurar, durante algum tempo, a monarquia absoluta. Alexandre Herculano, Almeida Garrett e Camilo Castelo Branco foram alguns dos mais importantes autores portugueses que publicaram livros no período em que D. Maria II reinou.