Moeda Rara
Português
“Da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia”. Em agosto de 1499, quando Vasco da Gama chegou a Lisboa depois da primeira viagem à Índia, o rei D. Manuel I (1495-1521) decidiu acrescentar aquelas palavras aos títulos que os reis portugueses usavam e que sofriam uma “mutação contínua desde D. João I”, como explica a História de Portugal coordenada por Rui Ramos. A demonstração de poder do monarca português não se ficou pelos títulos. Foi na sua época que Portugal deu “novos mundos ao mundo”, entre os quais se conta o Brasil, tendo ainda iniciado a expansão na Ásia.
Na numismática, mandou cunhar a única moeda global portuguesa: o Português. Trata-se de uma moeda de ouro com o valor de 10 Cruzados e que era, na altura, a de maior dimensão criada em qualquer reino europeu. Essa característica é assim descrita por Duarte Nunes Leão, citado no livro de Teixeira de Aragão sobre as moedas portuguesas: “Afóra estas peças entravaõ no presente aneis, bago, mitra, cruzes, cálices, e thuribulo de ouro coberto de admirável pedraria, e com isto, muitas moedas de ouro de quinhentos cruzados cada uma, dos cunhos de Portugal, que parecião grandes maçaes…”.
As “grandes maçaes” seriam Portugueses que estavam entre os presentes que seguiam na embaixada que D. Manuel I enviou ao Papa Leão X, em 1514. Joalharia, tecidos, um cavalo árabe e até um elefante contavam-se entre as ofertas do monarca português. Tal como os novos títulos do rei e o Português esta “operação” serviu também para Portugal afirmar o seu poder na Europa.
A cunhagem do Português de D. Manuel I terá começado antes da primeira viagem à Índia de Vasco da Gama. Joaquim Ferraro Vaz, num artigo publicado no nº 33, de 1974, da Nvmmvs, boletim da Sociedade Portuguesa de Numismática, refere dois textos de Gaspar Correia e Damião de Góis, os “únicos documentos conhecidos acerca da bela numária do Rei Venturoso”, que falam na existência do Português na “bagagem” do navegador português. Por exemplo, nas “Lendas da Índia”, Gaspar Correia conta que Vasco da Gama ofereceu a várias entidades do Oriente “Portuguezes de dez cruzados” assim como “Cruzados”, “Tostões de prata”, “Vintens” e “Meos Vintens”.
O Português apresenta no anverso o nome e os títulos de D. Manuel I numa legenda que envolve as armas de Portugal. No reverso encontra-se uma cruz da Ordem de Cristo. A moeda, cunhada ao longo de 40 anos, terá sido batido em grandes quantidades pelo rei D. Manuel I. Também foi cunhada no reinado de D. João III. A sua fama continuou para além destes dois reinados e a partir de 1570 várias cidades, entre as quais as da Liga Hanseática, bateram moeda de ouro de dez cruzados com a Cruz de Cristo no reverso. Ficaram conhecidas para a história da numismática como os Portugalosers.
O rei D. Manuel I consolidou e expandiu o trabalho feito por D. João II no domínio dos Descobrimentos. Foi no seu reinado que Vasco da Gama chegou à Índia e Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil.