Moeda Rara
Meio Escudo de Ceuta
Há 600 anos os portugueses iniciaram os seus celebrados feitos d’além mar com a conquista de Ceuta. Em 1415, um exército liderado pelo rei D. João I (1385-1433) rumou à costa africana e até hoje a cidade, que faz parte de Espanha, mantém as suas ligações a Portugal pois quer no brasão quer na bandeira de Ceuta mantêm-se os símbolos e as cores da monarquia portuguesa. Foi D. Afonso V (1438-1481), o terceiro rei da segunda dinastia, fundada por D. João I, que cunhou aquela que terá sido a primeira moeda de ouro portuguesa cunhada em Ceuta: o ½ Escudo de Ceuta. Moeda rara – são conhecidos três exemplares – é um símbolo da soberania portuguesa sobre a cidade e nela podem distinguir-se torres banhadas pelo mar.
Teixeira de Aragão, no primeiro volume da “Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome dos Reis, Regentes e Governadores de Portugal”, enquadra desta forma esta moeda de D. Afonso V: “ (…) Havendo D. Duarte cunhado os meios escudos, é muito provável que o seu filho também os lavrasse no começo do seu reinado, como praticou com as outras moedas. Não conhecemos documento que diga haver D. Afonso V estabelecido casa da moeda em África, mas a letra C observada no centro das torres, e o tipo muito semelhante a alguns ceitis deste monarca, nos induzem a acreditar que estes meios escudos fossem cunhados em Ceuta”.
Num artigo intitulado “Subsídios para o estudo da história monetária do século XV”, publicado na Nvmmvs 2ª série volume IV/V/VI (1981-1983), da Sociedade Portuguesa de Numismática, Maria José Pimenta Ferro Tavares considera terem existido, entre 1438 e 1495, quatro fases nas emissões monetárias portuguesas. As três primeiras estão associadas a D. Afonso V. Na primeira, que abrange a regência de D. Pedro e os primeiros anos do reinado de D. Afonso V, a autora destaca “o lançamento de um novo numerário de cobre, o ceitil”.
Na segunda, que vai de 1457/60 até 1470/72, assiste-se a “um período essencialmente caracterizado pela integração da moeda portuguesa no renascimento monetário europeu e durante o qual vemos aparecer em circulação espécies em ouro e de prata de boa lei, como os cruzados e os reais grossos, a par de moedas subsidiárias de bolhão, os espadins e os cotrins, que correm juntamente com os reais brancos e os ceitis”.
Na segunda, que vai de 1457/60 até 1470/72, assiste-se a “um período essencialmente caracterizado pela integração da moeda portuguesa no renascimento monetário europeu e durante o qual vemos aparecer em circulação espécies em ouro e de prata de boa lei, como os cruzados e os reais grossos, a par de moedas subsidiárias de bolhão, os espadins e os cotrins, que correm juntamente com os reais brancos e os ceitis”.
A terceira fase, que vai até 1485, já com D. João II no trono, que assumiu em 1481, será, no período afonsino, “afetada pela desagregação da moeda castelhana que, desde pelo menos 1470, vinha a preocupar o soberano e que levará a toda uma série de leis tendentes a defender as peças portuguesas”. A autora refere ainda que “dentro deste período devemos englobar um sub-grupo pertencente ao numerário da guerra contra Castela e que abrangerá os anos de 1475-76”. D. Afonso V nunca escondeu as suas ambições ao trono castelhano, tendo sido derrotado na batalha de Toro, em 1476. O monarca chegou mesmo a mandar bater uma nova série de Escudos na cidade espanhola de Toro com as armas de Portugal de um lado e as de Leão e Castela do outro.
Filho de D. Duarte, D. Afonso V ficou conhecido para a História de Portugal como o Africano, tendo sido o primeiro rei português que se intitulou “Rei de Portugal e dos Algarves, d’aquém e d’além mar em África”. A conquista de vários territórios em África – como Arzila, Alcácer Ceguer e Tânger - valeram-lhe aquele cognome. O monarca nasceu em Sintra, em 1432, e faleceu na mesma cidade, em 1481.