Moeda Rara
Tremissis - LATINA MVNITA
“Os tremisses da série LATINA MVNITA são, por dois motivos, as jóias da coroa da série sueva. As suas legendas são – pela primeira vez nas moedas de ouro suevas – significativas e os retratos, nos melhores espécimes, são notáveis pelo seu encanto e carácter. As legendas são variadas mas indicam, geralmente, a localidade em que a cunhagem foi efectuada, com as palavras latina e munita (moneta) “.
In A Moeda Sueva, Peixoto Cabral e Metcalf.
Os séculos III e IV d.C. foram a época das migrações dos chamados povos “bárbaros”, que viviam acantonados em várias regiões próximas das fronteiras do Império Romano. Desses povos, que então se deslocaram através da Europa, de Oriente para Ocidente, os Suevos e os Visigodos atravessaram os Pireneus no início do séc.V e entraram na Hispânia, onde os primeiros se estabeleceram na região do Noroeste, a Gallaecia, e escolheram para capital a cidade de Braccara (Braga). Para as suas relações e o seu comércio, terão achado conveniente converter o ouro que tinham ou o de algumas regiões auríferas, agora suas, em moedas do tipo romano, o solidus e o tremissis, aceites sem dificuldades. A primeira foi copiada no todo, de exemplares do imperador Honorius (393-423), da oficina de Mediolanum (Milão), talvez pelos dois primeiros reis, Hermerico e Réquila. Serão conhecidas pouco mais de 25 espécies. A segunda, o terço de soldo, terá sido batida, presumivelmente por fases e também em quantidades reduzidas, ao longo de mais de 150 anos, até 585, quando o fundador da nação visigoda, Leovigildo, incorporou aquele reino no seu. Conhecem-se menos de 200 destas moedas, o que, no todo, as torna as mais raras das espécies medievais europeias. O anverso dos tremisses é também cópia dos de Honorius, mas, na maioria, são cópias sucessivas dos de Valentiniano III (425-455), com legenda tornada em grande parte, ininteligível.
O reverso fixou-se numa gravura diferençada, com uma cruz central dentro de coroa fechada ladeada por dois paineis, característica dos suevos. Estas cópias vão diferindo lentamente, no estilo e por marcas na legenda ou no campo, como a ponta de uma lança, uma estrela, inteira ou truncada, ou uma letra, direita ou invertida, ou outros sinais, nem sempre explicáveis, e também sem uniformidade no peso (entre c. de 1,50g e 1,00g) e no teor de ouro (entre c. de 97% e 75%). A série que se tem presumido ser a última – com cerca de trinta exemplares encontrados – e a que mais difere, conhecida como o tipo LATINA MVNITA – por ter na orla do anverso estas duas palavras, ou só uma, completas ou abreviadas, associadas a um topónimo ou a um antropónimo, ou aos dois – é controversa.
Nas variadas opiniões, avulta a do seu fabrico não ter sido ordenado pelos reis suevos, pois os nomes interpretados serão, quando muito, de moedeiros desconhecidos ou de quem firmou o acordo para tais cunhagens, diferenciadas entre si. Os cinco locais de emissão, ou regiões, até agora identificados como a sua origem (Bergidum, Senapria, Leio ou Leones, Murello e a forma adjectivada Laurintina, de interpretação e localização incertas), estariam então em enclaves ou fora da área que se admite ter estado sob o governo dos Suevos, em agregados independentes, com administração própria, já evoluída, estabelecidos em comunidades do tipo civitas.
Rui Centeno